Ação inédita instala transmissores em oito botos-cor-de-rosa no Peru. A iniciativa regional ajudará no combate às ameaças dos rios e espécies da Amazônia Iquitos, Peru – 24 de setembro – Nos últimos anos, as populações de botos reduziram-se de forma crítica. A poluição das águas, a construção de barragens e a caça irregular – intencionalmente ou por captura incidental – são as ameaças mais graves a essas incríveis criaturas.
Duas espécies são encontradas na Amazônia peruana: o boto-cinza ou tucuxi (Sotalia fluviatilis) e o boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis). Além de ser uma das espécies mais icônicas de botos de água doce, o boto-cor-de-rosa também detém a maior população em todo o mundo. No entanto, saber mais sobre a espécie é fundamental para garantir a sua conservação – motivação por trás de uma expedição científica inédita realizada recentemente no Peru, na qual transmissores de satélite foram instalados em botos-cor-de-rosa.
A equipe científica entrou nos recantos mais profundos da Reserva Nacional Pacaya Samiria, em Loreto (uma das primeiras áreas estabelecidas pela Convenção de Ramsar no Peru), considerado um dos locais com maior densidade de golfinhos de água doce em todo o mundo. “Depois de apenas duas horas, conseguimos capturar com segurança, estudar e colocar transmissores em três espécimes do sexo masculino e um do sexo feminino. Alguns dias mais tarde foi possível taguear outros quatro golfinhos longe da área protegida, no rio Huallaga”, contou o biólogo José Luis Mena, diretor científico do WWF Peru.
De acordo com especialistas, o monitoramento por satélite de golfinhos ajuda a conservar a espécie e também fornece informações vitais para a preservação dos ecossistemas de água doce. Ao responder perguntas como quantos quilômetros os golfinhos viajam, quais são suas áreas de reprodução e alimentação, seus padrões de migração ou as diferenças entre populações dentro e fora de áreas protegidas, também é possível obter informações em primeira mão sobre as condições do habitat, ameaças e opções de conservação, e até mesmo dados que podem ajudar no processo de tomada de decisão pelos governos. “Como são superpredadores, o estado da população deles é um excelente indicador da saúde dos ecossistemas e dos potenciais impactos humanos”, destaca Mena.
Essa informação é particularmente importante hoje em dia, já que a Amazônia vem sofrendo pressões crescentes. Uma delas, por exemplo, vem dos projetos de hidrelétricas e infraestrutura de transportes nas bacias dos rios Huallaga e Marañon (área de estudo do atual estudo com botos) e seus potenciais impactos ambientais ainda desconhecidos. Portanto, é fundamental compreender a dinâmica desses rios, a biodiversidade e seus recursos, e como garantir a continuidade deles a longo prazo.
Abordagem regional
O monitoramento de botos é parte de uma estratégia regional de ciência e conservação liderada pelo WWF com parceiros locais na Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador e Peru. O objetivo final é rastrear 50 botos como um passo para a criação de estratégias eficazes para conservar rios em toda a Amazônia.
Durante os próximos quatro meses, os transmissores vão fornecer informações valiosas e únicas para a conservação dos botos. Mesmo assim, todos devem desempenhar o seu papel de cuidar de nossos recursos hídricos e, portanto, assegurar a longo prazo a continuidade de botos e outras espécies que vivem nos rios da Amazônia.